Já todos nós ouvimos (pelo menos os que se interessam pelo ambiente e viram, entre outros documentários, Uma Verdade Inconveniente de Al Gore) da pegada que cada um deixa no Planeta devido às emissões de carbono. Quem anda de avião regularmente deixa uma pegada ainda maior. O que nunca tinha ouvido falar era da possibilidade de se pagar essa pegada.
Mas o que significa isto de pagar a pegada? Bem, existem organizações que se dedicam a projectos para tirar o carbono da atmosfera através da reflorestação ou outros métodos, como o financiamento da substituição de geradores a diesel por outros mais ecológicos. Assim, quem estiver interessado paga o equivalente ao carbono que ajuda a emitir para a atmosfera em cada ano e esse dinheiro é empregue para combater a poluição atmosferica e o aquecimento global.
E, perguntam vocês e muito bem, onde é que eu fui buscar isto? Bem, estava numa das minhas interminaveis sessões de espera por transportes públicos e resolvi comprar a Visão para me pôr a par das notícias desta semana. E lá estava, na página 20, uma entrevista muito interessante com um senhor chamado Achim Steiner (por favor ignorar as possiveis piadas com o nome próprio do homem que o assunto é sério), que é desde o ano passado o director executivo do Programa da ONU para o Ambiente. Confesso que não fazia ideia da existência deste alemão que já teve vários cargos importantes a nível internacional par a protecção ambiental. Não sei como é que deixei escapar isto mas não se pode conhecer toda a gente e até o meu ócio é limitado. No entanto, bastaram-me dez minutos para ficar a conhecer superficialmente o senhor e a gostar das suas opiniões sobre o ambiente. Talvez venha a descobrir que é mais um caso de "olha para o que eu digo, não para o que eu faço", como um certo prémio nobel que se diz gastar demasiado em electicidade enquanto apregoa a necessidade de proteger o ambiente. Mas, por enquanto, Herr Steiner merece a minha admiração.
Não só paga fortunas para contrariar as emissões de carbono causadas pelas suas deslocções aéreas como percebe bem "o negócio". E por negócio refiro-me à necessidade de nos abstrairmos dos ideais utópicos de um mundo justo e percebermos que os lucros são o motor que faz girar o mundo. E usar isso para beneficio das causas pelas quais se luta.
Por exemplo, a jornalista pergunta na entrevista que já referi, se não é um pouco injusto os países ricos comprarem uns aos outros quotas de carbono, o "direito de poluir". E a resposta do senhor é digna de um aplauso:
"Se tomarmos pelo lado negativo, sim. Os países podem comprar o direito de poluir, como eu o de voar. Mas a realidade actual é continuar tudo na mesma ou encontrar estratégias para mudar a realidade. Esse mecanismo assenta nisto: é irrelevante onde se tira carbono da atmosfera, se no Chile ou na China. Interessa é o todo, e pode sair mais barato fazê-lo nos países menos desenvolvidos, por ser mais fácil introduzir novas tecnologias ou plantar florestas."
Vêem o que eu dizia? Visão de negócio. Porque é essa a ideia principal, fica mais barato e o resultado é identico. O planeta como todo não se interessa se estamos divididos em países, continentes, regiões. A diminuição da camada de ozono afecta todos por igual, o efeito de estufa é uma realidade, o aquecimento global e o derretimento das calotas polares não vão acontecer, estão a acontecer.
E ainda que não seja uma boa solução a longo prazo, pela sua insuficiência, é necessária esta atitude de tentar contrariar os efeitos das emissões de carbono para a atmosfera. Admiro o facto de haver gente disposta a pagar pelos estragos que faz ao ambiente. Eu não ando de avião, nunca andei, não sei se algum dia vou andar regularmente. Mas uma coisa é certa, se tiver possibilidade de tentar dar algo em troca, pelo que as minhas acções tiram à natureza, podem crer que o vou fazer. Não porque é bonito ou porque parece bem, mas porque quero que os meus filhos e netos possam um dia passear na baixa de Lisboa a pé e não com fatos de mergulho. Porque infelizmente não vou poder ver ao vivo e a cores o topo cheio de neve do Kilimanjaro. Por tantos motivos que não vale a pena enumerar.
Às vezes esqueço-me que estas coisas são realidade, que estão a acontecer aqui e agora. No nosso tempo. E tenho medo que já não tenhamos tempo para inverter todo o mal que fizemos ao nosso planeta. E digo nós porque sei que também tenho culpa no cartório: fumo, desperdiço água sabendo que só existe 0,5% de água potável no planeta, enfim, há muita coisa que tenho de mudar também em mim. Só mudando as nossas atitudes podemos mudar o que se passa no nosso planeta.
(Couch)